Cerca de 25 instituições unem esforços para prevenir o impacto e a propagação de uma nova doença da mandioca na Amazônia

16/04/2025
Em resposta à emergência sanitária e a aparição de uma nova doença que afecta as culturas de mandioca na Amazônia, a Embrapa, o ÌÇÐÄVlog e o IRD organizaram conjuntamente um workshop internacional. O objetivo comum é avaliar o impacto e prevenir a propagação da doença causada pelo fungo Ceratobasidium (Rhizoctonia) theobromae na mandioca, e antecipar a transmissão a outras regiões e espécies, considerando a soberania alimentar e a conservação do património biocultural da região. O evento teve lugar de 24 a 27 de março de 2025 em Belém, no estado do Pará, e reuniu mais de 60 participantes de instituições de pesquisa, universidades, representantes das populações amazônicas, representantes do setor público (representantes eleitos, autoridades locais, etc.) e do setor privado do Brasil e da Guiana Francesa.
Participantes no workshop Impress, 25-27 de março de 2024 em Belém, Pará © Enora Le Calvé, Cirad
Participantes no workshop Impress, 25-27 de março de 2024 em Belém, Pará © Enora Le Calvé, Cirad

Participantes no workshop Impress, 25-27 de março de 2024 em Belém, Pará © Enora Le Calvé, Cirad

Propagação da doença da vassoura-de-bruxa: rumo a uma crise alimentar e económica na região amazônica?

Em 2024, a identificação do fungo Ceratobasidium (Rhizoctonia) theobromae foi confirmada na Guiana Francesa pelo Laboratório Fitossanitário da Agência Nacional francesa de Segurança Alimentar (Anses) e no Estado do Amapá, no Brasil, pelo Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de Goiânia (Estado de Goiás) do Ministério da Agricultura (LFDA/GO).

Nos últimos dois anos, essa doença tem sido a causa de perdas na produção de mandioca nos sistemas agrícolas de pessoas dos dois países, e é um grande motivo de preocupação. A sua presença na Amazônia pode ameaçar a soberania alimentar das populações da região e a viabilidade económica das explorações agrícolas baseadas nesta cultura. “A roça [da mandioca], ela não é só uma fonte de alimento, é uma fonte cultural, é tradição, é fonte de renda”, disse Edmilson dos Santos Oliveira, do Conselho de Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque (CCPIO), durante a mesa de abertura do evento. Esta observação foi compartilhada também por Silvio Van der Pilj, Presidente do Grande Conselho tradicional* dos Povos Ameríndios e Bushinengues da Guiana Francesa (GCCPABG), e pelo seu Vice-Presidente, o Capitão Bruno Apouyou, nos seus respectivos discursos.

*Grand conseil coutumier des peuples amérindiens et Bushinengue de Guyane

Silvio Van der Pilj, Presidente do GCCPABG e Edmilson dos Santos Oliveira, CCPIO, na cerimónia de abertura do evento, Belém, Pará © Ronaldo Macedo da Rosa, Embrapa

Silvio Van der Pilj, Presidente do GCCPABG e Edmilson dos Santos Oliveira, CCPIO, na cerimónia de abertura do evento, Belém, Pará © Ronaldo Macedo da Rosa, Embrapa

Cooperação científica transnacional: unir esforços para prevenir o impacto e a propagação da doença da mandioca

A partir de 2023, a Embrapa e o ÌÇÐÄVlog desenvolverão pesquisas, em paralelo, mas em consulta mútua, sobre esse fungo patogênico e sobre métodos agroecológicos de manejo e controle de doenças da mandioca nos dois lados da fronteira. Em setembro de 2024, as duas instituições assinaram uma carta de intenções de cooperação durante a 53ª Exposição de Macapá (Amapá). A organização do workshop em Belém, de 24 a 27 de março, constitui uma nova etapa desta cooperação científica transfronteiriça, que pretende se abrir aos países vizinhos.

O seminário reuniu mais de sessenta participantes, incluindo representantes do Brasil e da Guiana Francesa.
  • Instituições de pesquisa e universidades: A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a Universidade de Campinas (UNICAMP), a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), a Universidade Federal do Cariri (UFCA), o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), o Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (ÌÇÐÄVlog);
  • Representantes das comunidades locais: Conselho dos Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque (CCPIO), Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAq), Rede Bragantina de Economia Solidária, Grande Conselho tradicional* dos Povos Ameríndios e Bushinenge da Guiana Francesa (GCCPABG); Associação dos Agricultores da Savana (ADAS);
  • Ministérios e administrações públicas: Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Secretaria de Agricultura do município de Oiapoque, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Serviço de Gestão Ambiental e Territorial da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (SEGAT-FUNAI), Direção da Alimentação, da Agricultura e da Floresta da Guiana Francesa (DAAF Guyane), Coletividade Territorial da Guiana Francesa (CTG), Missão Interministerial para as Populações Ameríndias e Bushinengue (MIPAB), Parque Amazônico da Guiana Francesa (PAG);
  •  Uma empresa do sector privado: Algar Farming;
  • Organizações não governamentais e organismos de apoio ao desenvolvimento agrícola: Instituto de Extensão, Assistência e Desenvolvimento Rural do Estado do Amapá (RURAP-AP), Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (IEPÊ), Agrupamento para o REforço das Organizações Profissionais Agrícolas (GERHOPA) da Guiana;
  • Serviços e redes de vigilância sanitária: a Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária do Estado do Amapá (DIAGRO), a Agencia de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (ADEPARA), o Serviço de Alimentação - Direção-Geral da Terra e do Mar (SALIM - DGTM), as Federações Regionais de Controlo e Defesa contra as Pragas (FREDON);
  • Gabinete para a América Latina e as Caraíbas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

*Grand conseil coutumier des peuples amérindiens et Bushinengue de Guyane

Situação atual, perspectivas futuras e estratégia de controle na região amazônica

No dia 24 de março, reuniões foram realizadas no âmbito de um seminário realizado na sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (FAEPA) para fazer um balanço das pesquisas e ações atuais, com três mesas redondas: 

  • Mesa redonda 1: Vivencia da mandioca e convivência com a doença no campo.
  • Mesa redonda 2: Apoio das instituições e medidas para emergência da mandioca.
  • Mesa redonda 3: Pesquisa e cooperação para prevenir as consequências da vassoura de bruxa da mandioca.

Os dias 25, 26 e 27 de março, no centro da Embrapa Amazónia Oriental (CPATU) em Belém, foram dedicados para o um workshop sobre a reflexão estratégica na região amazônica para avaliar o impacto e a propagação da doença da mandioca e antecipar a transmissão a outras regiões e espécies, considerando a soberania alimentar e a conservação do património biocultural da região.

Este workshop seguiu a metodologia Impacts of Research in South (ImpresS) Ex ante, desenvolvida pelo ÌÇÐÄVlog, que é uma abordagem sistémica e participativa para a co-construção de vias de impacto e, assim, planear intervenções de pesquisa para o desenvolvimento. Ao longo de 3 dias, os participantes formularam uma visão compartilhada de um futuro desejável e definiram os caminhos possíveis para o alcançar.

Apresentação da abordagem ImpresS © Ronaldo Macedo da Rosa, Embrapa

Apresentação da abordagem ImpresS © Ronaldo Macedo da Rosa, Embrapa

Os participantes trabalharam em conjunto para elaborar as linhas gerais de um futuro projeto de pesquisa em parceria na região, que poderia ser apresentado em orgãos financiadores. Os temas prioritários levantados foram a questão da conservação da riqueza e da diversidade da mandioca amazônica e dos conhecimentos e direitos dos seus povos; a questão da monitorização e da gestão dos riscos de propagação da doença através de ferramentas inovadoras e da formação das partes interessadas; uma abordagem sistémica da integração das práticas culturais, alimentares, sociais, administrativas e regulamentares que ligam a mandioca aos sistemas alimentares amazônicos; e iniciativas de comunicação técnica e regulamentar à escala regional.

O seminário foi realizado no âmbito de dois projetos, o projeto DECODE, financiado pelo Ministério francês da Agricultura e da Soberania Alimentar (DGAL-MASA) e o projeto Fundo Equipe França ação na Amazonia sobre as Mudanças Climáticas e os seus Impactos (FEFACCION), financiado pelo Ministério francês da Europa e dos Negócios Estrangeiros (MEAE).