Expedição exploratória da bacia do Rio São Francisco no Brasil

15/12/2023
Entre o dia 2 e o dia 10 de novembro de 2023, Veronica Mitroi (ÌÇÐÄVlog) e Luke Whaley (IRD) realizaram uma pesquisa exploratória na bacia do Rio São Francisco, no Brasil, com o objetivo de desenvolver projetos de pesquisa com parceiros brasileiros. Acompanhados por uma pesquisadora brasileira, Laudemira Rabelo (Funceme), e Gabriel Cosson (voluntário internacional do ÌÇÐÄVlog), eles se reuniram com pesquisadores, usúarios das aguas rio e moradores locais, das partes do rio as mais afetadas pelo desenvolvimento e pelas atividades humanas na área de captação.
Visita na UFAL © UFAL
Visita na UFAL © UFAL

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O Rio da Integração Nacional: Rio São Francisco

Conhecido como o "Rio da Integração Nacional", o Rio São Francisco drena uma imensa bacia de 630.000 km2, atravessando seis estados em mais de 2.900 km, ligando diferentes climas e ecossistemas. Recurso fundamental para o desenvolvimento dos estados por onde passa (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas e Goiás), a água do rio é compartilhada para uma variedade de usos por meio de um sistema complexo que abrange diferentes escalas e atores e afeta quem recebe a água, quando e como. Em um cenário de secas recorrentes e crescente artificialização do rio e de sua bacia, os conflitos pela água estão se multiplicando, assumindo novas formas e expressões e exacerbando as injustiças sociais e ambientais. O objetivo geral da pesquisa a ser realizada por Verônica e Lucas na bacia do rio São Francisco é facilitar o desenvolvimento de formas mais equitativas de governar e usar a água. É por isso que, como primeira etapa, eles estão procurando entender os sistemas existentes de governança da água, observando especialmente as lutas por autoridade e legitimidade e as consequências em termos de justiça e desigualdades socioambientais. Essa primeira visita de campo permitiu que eles fizessem contato com instituições de pesquisa, prefeituras locais e atores da sociedade civil.

A Expedição Científica do Baixo São Francisco

A viagem deles começou na cidade de Maceió, próxima ao estuário, onde foram recebidos pela equipe do professor Emerson Soares, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que organiza anualmente, desde 2017, a Expedição Científica Baixo São Francisco para estudar os problemas ecológicos e de saúde associados à degradação da qualidade da água pela poluição de origem agrícola, urbana ou de mineração, bem como o impacto ecológico das usinas hidrelétricas. Também conheceram Neison Freire, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além das oportunidades de colaboração científica, os colegas brasileiros expressaram um forte interesse na mobilidade de estudantes de pós-graduação entre a França e o Brasil, pois "isso fará uma grande diferença na formação desses estudantes e certamente terá uma influência direta em seu desenvolvimento profissional", enfatizou José Vieira, professor do campus da UFAL em Arapiraca.

Complexo Paulo Afonso: 7 usinas hidrelétricas para transferir água do Rio São Francisco para outros estados brasileiros

Depois de conhecerem os problemas ambientais e sociais (salinização do rio, degradação da pesca, poluição por metais pesados e problemas de saúde para os ribeirinhos) no estuário e na parte a jusante do rio (Piaçabuçu, Penedo, Piranhas), eles continuaram a visita com o complexo Paulo Afonso de 7 usinas hidrelétricas e as obras recém-inauguradas para levar a água do rio até Fortaleza (Ceará), em um percurso de cerca de 600 km. Essas obras fazem parte de um projeto faraônico de transferência de água do rio para outros estados do Nordeste: Paraíba (eixo concluído em 2019) e Rio Grande do Norte (atualmente em construção). A visita técnica foi conduzida por engenheiros da SOHIDRA - Superintendência de Obras Hidráulicas do Ceará, além de Paulo Fereira, superintendente que facilitou a visita. Eles também se reuniram com representantes eleitos e membros da sociedade civil que trabalham para "revitalizar" o rio, especialmente combatendo a poluição de fontes urbanas, agrícolas e de mineração, e promovendo o patrimônio ecológico e cultural do rio como uma atração turística.

Perspectivas

O Rio São Francisco, que é objeto de um dos maiores projetos de transferência de água entre bacias hidrográficas do mundo, também é um local extremamente complexo em termos de governança e compartilhamento de água, em uma região notória por secas históricas e "lutas pela água". Veronica e Luke esperam que esses contatos iniciais com o rio e suas partes interessadas facilitem a criação de projetos e esquemas de pesquisa interdisciplinares e participativos que proporcionem uma melhor compreensão das questões em jogo nessa governança em termos de justiça socioambiental e usos mais equitativos e sustentáveis da água.